INTRODUÇÃO
Em I Coríntios 3, Paulo apresentou três imagens da igreja local. A igreja é uma família, cujo objetivo é a maturidade (I Co 3.1-4); um campo cujo alvo é a quantidade (I Co 3.5-9a); um templo cujo propósito é a qualidade (I Co 3.9b-23).
Neste texto, supra citado, o apóstolo também utiliza três imagens [retratos] para descrever o ministro cristão. O obreiro é um despenseiro que vive com fidelidade (I Co 4.1-6); um espetáculo ao mundo que revela humildade (I Co 4.7-13); e um pai que demonstra amabilidade (I Co 4.14-21).
Seu objetivo é levar os leitores a compreenderem como Deus mede e avalia o serviço do cristão. I Coríntios 4.6 explica o propósito de Paulo: “A fim de que ninguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento do outro”.
1. FIDELIDADE – O DESPENSEIRO (I Co 4.1-6) – Paulo ainda está corrigindo o mesmo problema identificado desde o capítulo 1, a divisão da igreja em virtude do culto à personalidade. Devemos nos lembrar que Corinto era uma cidade grega e o grande hobby dessa cidade era ir para a praça, a ágora, a fim de escutar os grandes filósofos e pensadores discutirem suas idéias. Desse modo, eles se identificavam com um ou outro líder, e acabavam se tornando seguidores de homens. Centrando-se em seus líderes, os coríntios estavam prestando fidelidade a homens. Eu preciso denunciar um pecado da igreja evangélica: tietagem. É comum os crentes dizerem: “Vou ouvir o pregador fulano de tal”, ou vou ver meu cantor [a] predileto [a]. Quando estes “astros” estão nas igrejas, nos congressos, eles arrebatam uma multidão de crentes. É o culto à personalidade. Veja se estes mesmos irmãos, irão a próxima EBD. Tenho certeza que muitos não irão!
Agora você deve estar perguntando: Como Paulo combate essa idéia do culto à personalidade?
Em primeiro lugar, o ministro é um escravo sentenciado à morte.
Paulo escreve: “Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo” (4.1). A palavra “ministro” na língua portuguesa representa o primeiro escalão do governo. O ministro é uma pessoa que ocupa uma alta posição política, que tem em suas mãos um grande poder e autoridade. Todavia, a palavra usada pelo apóstolo para definir o ministro nos dá uma idéia totalmente oposta. A palavra usada no original é huperetes , que significa um remador de galés. Esta palavra somente aparece aqui em todo o Novo Testamento. Nos grandes navios romanos existiam as galés, que eram porões onde trabalhavam os escravos sentenciados à morte. Aqueles escravos prestavam um serviço antes de morrer. É isso que Paulo quer ensinar à igreja de Corinto. Os ministros não devem ser colocados em pedestais, como se fossem capitães do navio, antes devem ser vistos como um escravo que serve ao capitão até a morte. Prezado obreiro, você não é o dono da Igreja. Deus não nos deu uma procuração passando a igreja para nossas mãos. Você é o huperetes, e nada mais! Você não é o capitão do navio, mas sim, o remador que leva o navio para frente!
Em segundo lugar, o ministro é um mordomo que obedece as ordens do seu Senhor.
Em segundo lugar, o ministro é um mordomo que obedece as ordens do seu Senhor.
Agora, o apóstolo explica a imagem do despenseiro. Um despenseiro é um servo que administra todos os bens de seu senhor, mas ele próprio não possui coisa alguma. José era o despenseiro-chefe da casa de Potifar (Gn 39). A responsabilidade do despenseiro é ser fiel a seu Senhor. Talvez não agrade aos membros da família, talvez não agrade a alguns dos outros servos, mas, se agradar ao Senhor, é um bom despenseiro.
Assim, a questão principal não é: “será que todos gostam de Paulo?”, ou será que Apolo prega melhor que Paulo?” A questão mais importante é: “Será que Paulo, Apolo e Pedro foram fiéis à obra que Deus os incumbiu? Analise sua vida e veja qual é a sua motivação. Você quer ser bajulado? Você prega para mostrar que é melhor que seu irmão? Ou o que motiva a você, é a glória e o reino de Deus?
2. HUMILDADE – O ESPETÁCULO (I Co 4.7-13) –
O ministro é um espetáculo para o mundo (4.9). Paulo usa uma imagem conhecida dos cidadãos do império romano. O governo mantinha o povo pacificado, oferecendo entretenimento nas diversas cidades do império. Os anfiteatros ficavam lotados de gente ansiosa para ver homens competindo em esportes e prisioneiros lutando contra animais selvagens. O Coliseu em Roma tornou-se o centro desse tipo de “entretenimento”.
A palavra grega teatron , “espetáculo” dá origem a nossa palavra “teatro”. Paulo diz que o ministro cristão é o teatro do mundo, e que sua vida se desenrola num palco e arena de morte. O coliseu romano se tornou o centro desses espetáculos, onde os cristãos eram colocados para lutar contra feras e desse modo eram expostos à morte. Essa é a figura que o apóstolo evoca para os ministros. Os ministros não estavam no pódio para os aplausos dos homens, mas na arena do teatro, para serem entregues à morte.
Que retrato dos apóstolos de Jesus Cristo! No entanto, isto constitui um pano de fundo para uma série de contrastes que Paulo faz a fim de conduzir os coríntios da vanglória à humildade.
Reis – prisioneiros (4.7-9) A pergunta em I Coríntios 4.7 deve levar todos nós a refletir. “Quem é que te faz sobressair?” Prefiro a tradução que diz: “Quem te considera superior?” Conta-se uma vez que um jovem pastor pediu oração para um ancião da igreja: Por favor, ore por mim, para que eu permaneça humilde. O ancião com rara sabedoria respondeu: “Mas que motivo que você tem para se orgulhar?” Não há lugar para o orgulho no ministério. Se um líder da envergadura de Paulo se considerava “um espetáculo no final da programação”, o que dizer de nós? Responda-me se tens inteligência.
Sábio – louco (4.10a) – De acordo com os padrões dos homens, Paulo era um louco. Se tivesse continuado sua carreira de rabino, poderia ter galgado a cargos elevados dentro da religião judaica (Gl 1.14). Os coríntios eram sábios a seus próprios olhos, mas, na verdade, aos olhos de Deus não passavam de loucos. Os que buscam a sabedoria espiritual tornam-se loucos aos olhos do mundo (I Co 3.18). É apropriado citar a celebre frase do mártir Jim Elliot: “Não é louco quem dá aquilo que não pode guardar a fim de ganhar o que não pode perder”.
Fortes – fracos (4.10b) – Houve um tempo em que Paulo se vangloriava de suas forças; mas quando ele teve um encontro com Jesus Cristo e descobriu que as coisas que considerava habilidades eram, na verdade, deficiências (Fp 3). Os coríntios orgulhavam-se de suas realizações espirituais. Os partidos que havia dentro da igreja orgulhavam-se de seus líderes e ministros prediletos. Tudo isso, porém, não passava de fraqueza. A verdadeira força só é experimentada quando Deus é glorificado (II Co 12.9).
Nobre – desprezado (4.10c-13) – Este era o ponto critico da questão: os cristãos de Corinto desejavam a honra que vem dos homens, não a honra que vem de Deus. Tentavam “tomar emprestada” alguma glória se relacionando com “homens importantes”. Você conhece alguém assim? A isso Paulo responde aos coríntios: “Se vocês se relacionarem conosco, devem estar preparados para sofrer. Nós, os apóstolos, não somos nobres; somos homens desprezados!”
Em seguida, Paulo descreve as privações e sofrimentos que teve de suportar como servo de Deus. O fato de ter trabalhado com as próprias mãos fazendo tendas podia ser considerado por muitos algo humilhante, pois os gregos desprezavam o trabalho manual.
Paulo conclui: “ Somos caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos” (4.13)
3. TERNURA – O PAI (I Co 4.14-21) –
A última figura que Paulo usa neste capítulo é a figura de um pai que precisa exercer doçura e temor. Paulo já tinha comparado a igreja local a uma família (I Co 3.1-4), mas agora a ênfase é sobre o ministro como um pai espiritual. Muitas vezes quando temos que usar a vara para disciplinar nossos filhos, choramos mais do que eles. Sofremos e sentimos mais que eles. É assim que Paulo está se sentindo, pois acabara de disciplinar severamente a igreja. Agora, veja o que ele escreve: “Não vos escrevo estas cousas para vos envergonhar; pelo contrário, para vos admoestar como a filhos meus amados” (4.14).
Qual a relação do ministro ser um “pai espiritual?”
Qual a relação do ministro ser um “pai espiritual?”
Em primeiro lugar, o pai é aquele que gera filhos pelo evangelho (I Co 4.14,15).
Paulo fala do pai espiritual. Leia I Coríntios 4.15. A palavra “preceptor” que aparece no texto original é paidagogos. É o escravo que tinha a responsabilidade de cuidar de uma criança e conduzi-la à escola. Ele não era o professor, mas aquele que levava o filho à escola e o deixava aos pés do mestre. Paulo queria dizer: vocês podem ter muitos que levam instrução até vocês ou, levam vocês à instrução. Porém vocês só têm um pai. Eu sou o pai de vocês! Eu gerei vocês!
Em segundo lugar, o pai é aquele que é um exemplo para os filhos (4.16,17). Paulo diz: “Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores”. A palavra “imitadores” no grego, é mimetai, de onde vem a palavra mimetismo, mímica. Ou seja, você ensina o filho não apenas por aquilo que você fala, mas, sobretudo, por aquilo que você faz. Os filhos aprendem primeiro pelo exemplo, depois pela fala. É por isto que muitos desacreditam de nosso ministério. Não damos exemplo algum. Falamos para a igreja vir a EDB, mas nós não vamos. Falamos para vir para o culto de oração, mas nós chegamos apenas no final. Como vamos pedir algo que nós mesmos não fazemos? O exemplo não é apenas uma forma de ensinar, mas a única forma eficaz.
Em terceiro lugar, o pai é aquele que disciplina seus filhos (4.18,21) – A criança precisa ser quebrantada, não destruída. Antes de ser domado, um potro é um animal perigoso e que não pode ser usado. Uma vez que aprende a obedecer, porém, torna-se manso e útil. Os pais fiéis devem disciplinar os filhos. Não basta ensinarem e serem exemplos; também precisam disciplinar os filhos quando os filhos se recusam a obedecer. Este parágrafo mostra o discurso e o poder, as palavras e as ações. Os corintios arrogantes viviam contando vantagem, como as crianças costumam fazer, mas suas atitudes não conduziam com suas palavras. Sua religião era apenas da boca para fora. Paulo estava preparado para agir de acordo com seu discurso, tomando providências que revelariam o pecado dos coríntios e a santidade de Deus.
Que o Eterno nos capacite a sermos verdadeiros ministros conforme esta exposição. É a minha oração. Que seja a sua também. Amem!
Bibliografia:
Wiersbe, Warren. Comentário Expositivo. Novo Testamento. Geográfica Editora.
http://davarelohim.blogspot.com/2009/04/as-tres-imagens-do-ministerio-i-co-4.html
Reproduzido por: Dc. Alair Alcantara
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