sexta-feira, 29 de julho de 2011

Falando entre vós em Salmos - 12 -


 Por Dc. Alair Alcântara

No Senhor confio; como dizeis à minha alma: Fugi para a vossa montanha como pássaro?

Não há um consenso sobre quem disse a alma (pessoa) de Davi para fugir – se algum amigo preocupado, como Pedro medrosamente aconselhou Cristo a não ir à cruz (1); ou algum inimigo zombando de Davi. A verdade é que Davi tinha um refúgio melhor: “No Senhor confio” – responde aos seus interlocutores; portanto “por que fugir quando se pode confiar?” (2).

Assim como Davi, somos constantemente “encorajados” ao desespero, à fuga, a largar tudo e buscar um refúgio. Somos atemorizados por nossos problemas e por nossos perseguidores. Porém, não podemos abrir mão da promessa de Deus, não podemos recuar quando Ele nos afirma estar presente conosco. Da forma que Davi confiava no Senhor e cria este ser o caminho mais excelente; tenha ó minha alma, o mesmo sentimento! Nunca nos permita esquecer Senhor, que Tu estás conosco todos os dias e prometestes ser nosso Deus; nós, Teus filhos; e que habitarias em nosso meio!

Pois eis que os ímpios armam o arco, põem as flechas na corda, para com elas atirarem, às escuras, aos retos de coração.

Os perversos estão sempre de tocaia. Sua vida consiste em aguardar a oportunidade para desempenhar o papel à qual foram por Deus entregues. Nossa vida corre constantemente perigo – ou olvidaremos as declarações: “por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro” (3). O verso dá a entender que não apenas ardilosamente e secretamente os ímpios tramam; mas que os “retos de coração”, nem escondidos, “às escuras” estão livres de seu importúnio. Se não fora pelo Senhor, certamente seríamos consumidos.

Se forem destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?

Fundamentos” – para alguns, ordem social (talvez a lei e a ordem da mesma); para outros, alegoricamente, os sacerdotes do Deus vivo que haviam sido mortos por Saul; ainda outros, simplesmente o fato de que Davi não tinha um lugar seguro para colocar seus pés. O fato é que, olhando pelo prisma neotestamentário, encontro uma alusão ao Único fundamento sólido para nós, ao qual Davi recorreu: o Senhor!

Nós justificados por Deus, sendo assim vistos como justos na literatura sapiencial; quando parece que estamos perdidos por não haver mais fundamentos, estamos seguros. Isso porque o ímpio não pode nem contemplar nosso Fundamento eterno! “Que poderá fazer o justo?” – pergunta o texto. Nada, além de se estar estribado no Senhor! “Que poderá fazer O justo?” – pergunto eu. O próprio salmista responde: tudo, pois também “o Senhor é justo” (verso 7). Os fundamentos do mundo podem ser abalados e derribados, mas confie no fundamento eterno – a promessa dAquele que não pode negar a Si mesmo. Senhor, não permita que tenhamos o mesmo fundamento frágil que o ímpio – a areia; mas que lembremos que ouvindo Tuas palavras – e as praticando com o auxílio de Teu Espírito, estamos sobre a rocha!

O Senhor está no seu santo templo, o trono do Senhor está nos céus; os seus olhos estão atentos, e as suas pálpebras provam os filhos dos homens.
O Senhor prova o justo; porém ao ímpio e ao que ama a violência odeia a sua alma.

Davi “não diz simplesmente que Deus habita o Céu; mas que Ele reina lá” (4). Oh, Senhor, Tua criação, embora em contínua expansão não pode Te conter, sendo transcendente a ela; e que não a deixas sem cuidado, pois envolve-Te pessoalmente com ela, e em nosso meio – imanente em nosso interior através de Teu Santo Espírito, concede fé suficiente nesta verdade de modo que não tenhamos temor a situações nem pessoas. Que possamos temer apenas o que pode matar a alma; e que interroguemos nossa alma – o que me pode fazer o homem? – uma vez que estamos seguros em Tuas mãos!

Quando Deus segura por algum tempo Seus juízos, Seu exercício de jurisdição, ainda que estejamos em apuros sem entender o porquê; descansemos na certeza que tudo está em Seu controle misericordioso. “Nada pode perturbar a estabilidade e a tranquilidade de Deus. Ainda assim, Ele se preocupa com o que os filhos dos homens fazem” (5). Deus está atento a tudo o que acontece – com o desespero do inocente e com a malignidade do ímpio. O homem mal, folga na aparente demora em ser castigado – como se nada houvesse que pudesse temer, ou tirá-lo de seu status de domínio.

Parafraseando Jonathan Edwards: “há razão para pensar que há muitos que estão lendo este discurso (texto itálico meu) que serão objetos desta mesma miséria por toda a eternidade” que “se lembrarão deste discurso no inferno” (6). Não apenas o ímpio, mas o frequentador de Igreja que não foi regenerado, ambos imaginam que Deus está distante e indiferente ao seu modo de vida. “Sua imobilidade (de Deus) não é inércia mas, sim, concentração, e Sua paciência dá oportunidade para justos e ímpios igualmente, demonstrarem aquilo que são” (7).

Fazendo um jogo de palavras entre as traduções da palavra “prova” (alguns traduzem aprovam) e dentro do contexto em que Deus observa a todos, prova (ou aprova) o justo e reprova o ímpio; posso dizer que o justo é aprovado mediante aprovação. Assim, todo o processo de sofrimento é como o do ourives, purificando a jóia, ou seja, ainda que seja um momento dolorido, resultará em maior glória a Deus. Desta maneira, se você está sofrendo em angústias neste momento, avalie-se e descubra se você de fato têm em Deus seu único refúgio. Se sim, este momento irá passar e você sairá fortalecido. Se não, hoje é o dia de se consertar e abraçar o Mediador divino, a saber, Jesus o Cristo.

Mas como já foi escrito, nós demonstramos aquilo que nós somos – que nós fomos feitos; ou vaso para honra, ou vaso para desonra. Senhor, quando eu ver um vaso desonrando o Teu nome através de maus tratos a mim – que Tua misericórdia me sustente, e não me desespere, tão pouco me ensoberbeça. Se me vir Te desonrando, dá-me através de Teu Santo Espírito o quebrantamento para o arrependimento.

Sobre os ímpios fará chover laços, fogo, enxofre e vento tempestuoso; isto será a porção do seu copo.

A alusão a Sodoma e Gomorra é evidente e nos ensina, conforme Judas, que “estando sob o castigo do fogo eterno, elas servem de exemplo” (8). A maldade que outrora era motivo de folga, volta-se agora como juízo. É o Senhor que julga, reprova e executa o justo juízo. A taça da ira divina, tão cheia ao longo dos anos será enfim dada aos iníquos; e estes sorverão até a última gota. “Você o beberá, engolindo até a última gota”, profetizou Ezequiel (9).

Resumindo, aqueles que “estão constantemente a motejar de Deus, como se não pudessem ser alcançados, a menos que antes de tudo sejam bem enredados e solidamente presos pelas malhas divinas. Deus, portanto, começa sua vingança armando laços, fechando contra os perversos todas as vias de escape; e quando os tem enredados e presos, então troveja sobre eles de forma assustadora e terrível, da forma como consumiu Sodoma” (10).

Porque o Senhor é justo, e ama a justiça; o seu rosto olha para os retos.


O povo de Deus é observado em suas aflições – e salvo em tempo oportuno. Foi assim no cativeiro egípcio: “Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores” (11). O justo é amado, pois o Senhor é justo – e foi Ele quem fez o ímpio justo através de Cristo. Assim, estamos sobre “fundamentos” que não podem ser abalados. Mas, o verdadeiro justo é o Senhor, e a justiça faz parte da Sua natureza. Fazendo-nos justos (retos), faz-nos alvos de Seu amor, pois sendo Ele O Justo não pode negar a obra que de Si mesmo vem. Portanto, nossas dificuldades têm três propósitos claros: 1 fazer-nos nos auto-avaliar; 2 purificar; 3 trazer glória ao nome do Senhor. Oh Pai, que nas dificuldades possamos lembrar destes propósitos e exercitando a fé que nos deste e a justiça que compraste para nós, possamos abrir nossos lábios apenas para clamar misericórdia e louvor – e não para murmurar.

Referências:
(1) Mateus 16.22;
(2) MACDONALD, William – Comentário Bíblico Popular Antigo Testamento  – Editora Mundo Cristão, p. 380;
(3) Salmos 44.22, conf. Romanos 8.36 e 2Coríntios 4.11;
(4) CALVINO, John – Salmos - comentários; volume 1 – Editora Fiel, p. 216;
(5) MACDONALD, op. cit., p. 380;
(6) EDWARDS, Jonathan – Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado e Outros Sermões – CPAD, p. 49;
(7) KIDNER, Derek – Salmos 1-72 - Introdução e Comentário – Edições Vida Nova, p. 90;
(8) Judas 7;
(9) Ezequiel 23.34;
(10) CALVINO, op. cit., p. 380;
(11) Êxodo 3.7.

Ave Crux, Unica Spes!

Postado Por Dc. Alair Alcântara

Sem Fronteiras

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